sábado, 29 de outubro de 2016

Teoria de gênero: o novo marxismo que quer destruir o homem



O pe. Étienne Roze, autor de “Verdade e esplendor da diferença sexual”, analisa a ideologia de gênero e fala de como derrotá-la.


“A complementaridade entre o homem e a mulher, ápice da criação divina, está hoje sendo contestada pela chamada ideologia de gênero”, voltou a dizer o papa Francisco, na última segunda-feira, durante um encontro com os bispos de Porto Rico em sua visita ad limina. A preocupação do papa reflete a de toda a Igreja, chamada a testemunhar a beleza da diferença sexual diante da proliferação de uma ideologia que tenta corroer a milenar herança biológica e antropológica da humanidade.
O padre Étienne Roze, pároco de origem francesa na diocese italiana de Albano Laziale, doutor em ciências do matrimônio e da família e autor do ensaio “Verdade e esplendor da diferença sexual”, aborda nesta entrevista as origens da teoria do gênero, as implicações que dela decorrem e o caminho para vencermos esta batalha contra um pensamento único disposto a destruir as diferenças.
ZENIT: Pe. Roze, como é que se chegou a questionar um dado que sempre foi óbvio para os homens de todas as épocas e culturas, como é o caso da diferença sexual?
Pe. Étienne Roze: Para responder a esta pergunta, eu tenho que voltar às fontes da teoria de gênero. Ela tem a ver com um desvio da inteligência cujo cume é o niilismo. A natureza se torna sem sentido, o homem vira Deus e molda a realidade e a verdade a seu gosto. Então, na medida em que a realidade à nossa volta não é mais um dado original que nos precede e que nos dá significados, nós pretendemos redefinir também a diferença sexual. Este retrocesso cultural se corrobora com as aplicações modernas do niilismo, como, por exemplo, o existencialismo, o construtivismo e o estruturalismo, que foram estudados, absorvidos e reinterpretados pelas feministas ativas nas universidades norte-americanas dos anos 70 e 80. É desta síntese que nasce a teoria de gênero, que dá as caras publicamente em 1995, em Pequim, durante a Conferência Mundial sobre as Mulheres. Na ocasião, a feminista Judith Butler teoriza, pela primeira vez num contexto tão importante, um dualismo entre gênero e sexo.
ZENIT: A teoria de gênero é brandida pelos seus proponentes como uma arma contra a discriminação…
Pe. Étienne Roze: Exatamente. Faz parte de uma dialética de ódio e de antagonismo entre dois elementos, de modo que um possa derrotar o outro. É o passo que leva do niilismo ao marxismo, que tenta traduzir a filosofia em história. Karl Marx é o mestre dessas feministas. O comunismo criou um conflito para suprimir a discriminação entre o proletariado e o capital, mas sabemos como foi que isso acabou… Hoje, na reinterpretação feminista do método de Marx, o capital é representado pela heterossexualidade e o proletariado por todos os gêneros fluidos e em contínua mutação, que, em inglês, são indicados pelo termo “queer”. São mais de cinquenta, além das identidades agrupadas na sigla LGBT. De acordo com especulações dessas feministas, a história foi dominada durante séculos pela opressão da heterossexualidade como condição para a reprodução dos seres humanos, mas finalmente chegou a hora em que as correntes da escravidão serão quebradas. De que forma? Com a ectogênese, ou seja, a possibilidade de ter filhos fora de um corpo feminino. Assim, ser mulher não terá mais nada a ver com o fato real da maternidade, que seria completamente absorvida pela biotecnologia.
ZENIT: Essa ideologia está infiltrada em edifícios institucionais, locais de cultura, escolas… Quem se beneficia com isso?
Pe. Étienne Roze: Isso é útil para quem está no poder, para quem tem interesse no pensamento único, porque isso deixa a humanidade dócil a qualquer imposição. A história mostra que afirmar um pensamento único deixa as coisas mais fáceis para as classes dominantes. Há exemplos recentes e atrozes, como a pretensão de Hitler de impor o domínio da raça ariana, ou a do comunismo de massificar as pessoas e privá-las da sua dignidade. A teoria de gênero certamente não interessa à humanidade, porque a diferença é a condição do nascimento. Se a diferença for eliminada, teremos uma lacuna que vai nos destruir. É um cenário que lembra o que lemos na Bíblia.
ZENIT: Em que passagens?
Pe. Étienne Roze: Por exemplo, no capítulo 7 de Jeremias, versículo 34, encontramos: “Eu farei cessar nas cidades de Judá e nas vias de Jerusalém os gritos de alegria e a voz do regozijo, a voz do esposo e da esposa, porque o país será reduzido a um deserto”. E no Apocalipse, capítulo 18, versículos 21 a 23, lemos: “… e a voz do esposo e da esposa não será mais ouvida em ti”. Bom, eu não gostaria de passar por profeta de catástrofes, mas a sociedade concebida pelos defensores da teoria de gênero, privada da diferença entre homens e mulheres que possam se unir e procriar, se tornaria um deserto…
ZENIT: Como evitar este cenário? O cardeal Elio Sgreccia escreve na introdução do seu livro: “A melhor refutação da filosofia desconstrutivista de gênero está na apresentação da positividade da antropologia cristã”… Pode nos falar mais sobre isto?
Pe. Étienne Roze: O cardeal Sgreccia captou a intuição por trás do meu livro, que flui das palavras de Fiodor Dostoiévsky: “A beleza salvará o mundo”. No texto, depois de apresentar a teoria de gênero no primeiro capítulo, eu tentei destacar a verdade e a beleza da diferença sexual, considerando-a em nível filosófico, exegético, antropológico, biológico e psicológico. Ao longo dos séculos, as várias heresias permitiram que a Igreja realizasse um trabalho profundo para refutá-las. Hoje, embora não seja uma heresia, mas uma ideologia, a teoria de gênero está nos dando a oportunidade de aprofundar na dimensão criatural da diferença sexual. Por isso, é importante agir em dois níveis: no setor público, por meio de manifestações, e também no setor intelectual. É questão de captar, encarar e lutar positivamente essa nova batalha.

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