Putin apelou à guerra da desinformação cibernética
para desestabilizar os países vítimas
Svetlana F., 39, aparecia desolada na cozinha de seu apartamento de Berlim. Ela chorava a desgraça que teria sofrido sua filha de 13 anos, supostamente sequestrada e estuprada por um imigrante árabe e internada num hospital psiquiátrico em estado de choque, contou em extensa reportagem a grande revista alemã “Der Spiegel”.
O maior estrépito foi na mídia russa, pois Svetlana tem essa nacionalidade. O Kremlin se erigiu em advogado de sua filha. E Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores, atacou diretamente as autoridades alemãs.
A embaixada russa em Berlim transmitiu agressiva queixa escrita ao Ministério de Relações Exteriores da Alemanha. A diplomacia de Moscou exigia uma investigação completa que não escondesse nada.
Lavrov acusou o governo alemão de acobertamento. Este estaria escondendo os fatos para salvar a imagem da chanceler Angela Merkel, que promove a entrada maciça de muçulmanos.
O ministro alemão para as Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, reagiu fortemente, qualificando a atitude de Moscou de “propaganda política”.
As redes sociais regurgitaram de comentários em favor da menina e da Rússia, e contra o governo de Berlim.
A Divisão de Investigações Criminais de Berlim assumiu o caso e penou para identificar o que havia ocorrido, até as contradições se acumularem a ponto de definir outro cenário.
A história era completamente diferente. A “menina” não era a tal e estava vivendo com um rapaz alemão. E voltou para casa por iniciativa própria.
A verificação médica não achou nenhum sinal de violência, enquanto sites enganados pelo golpe russo anunciavam que “pelo menos cinco estrangeiros” ficaram estuprando-a durante 30 horas.
A moça desmentiu as versões de algum crime contra ela. Mas em seu nome já havia passeatas pedindo a pena de morte para os abusadores de crianças. O “Canal Um”, da Rússia, dedicava ao escabroso e fictício caso um espaço especial no horário nobre.
Todas as maiores TVs da Rússia nas mãos do Estado batiam na nota do estupro e apresentavam filmagens sem nenhuma relação com o caso, algumas delas tiradas de YouTube em 2009.
Os sites russos Sputnik e RT (Russia Today) continuavam martelando no caso, até 700 pessoas se manifestarem diante da Chancelaria de Angela Merkel.
Na realidade, o “caso” da moça expôs a novo estilo da guerra propagandística que Moscou está tocando para desequilibrar o Ocidente.
O caso da menina “sequestrada” e “estuprada” sob o acobertamento do governo alemão tinha todos os ingredientes emocionais necessários para dividir a Alemanha.
Manipulado pelo Kremlin, o caso foi uma bomba da “guerra da informação” de natureza psicológica usado na guerra híbrida para desestabilizar países inimigos.
Vladimir Putin e sua equipe formada na KGB sabem usar muito bem esses golpes.
Eles estão aplicando mais uma vez os “velhos métodos” da KGB – desinformação e desestabilização –, disse Hans-Georg Maassen, presidente do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV), o serviço de inteligência alemão.
Trolls – mentiras montadas e espalhadas através das redes sociais e da Internet; ciberataques como o praticado contra o Bundestag; “pequenos homens verdes” como os soldados que invadiram a Crimeia, são ingredientes constitutivos da “guerra híbrida”, quer dizer, da guerra iniciada sem declaração formal, sem regras nem fronteiras.
Nessa guerra o beligerante age anonimamente, não se identifica, fica invisível, em lugar de disparar com armas ataca com palavras, e a Internet tem-se revelado o mais importante campo de combate.
continua no próximo post: Artifícios e instrumentos do Kremlin para desequilibrar o Ocidente
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